Porque era carnaval, porque era feliz, e porque estava vivo.
by Lily
Carnaval em Madureira, by Tarsila do Amaral
“E mais ano e mais
ano tinha voado e era rapazote já, e era fevereiro e corríamos e pulávamos e
éramos do Egito com o rosto queimado pelo sol do Saara, e era serpentina e era
confete, e era bonde parar para descer o nosso amor faça o favor seu condutor
que somos duzentos que vamos, e vamos unidos, rugindo que com alegria não se
brinca que gargalhar é coisa séria dizia o chico rei no coração do bloco, e
passou a jardineira balançando o ombrinho e o mundo era todo dela, que eu
prometia e embrulhava com fitas de seda e ela soberba não desmanchava fazendo
biquinho, que ingrata, e a mulher da minha vida passava ao largo mas na próxima
esquina descobria que a mulher da minha vida era outra, e era o escarcel e a
tramontana, empurrado e atropelado e abraçado, cantando rouco e de olhos
fechados lindos versos de amor, versos suados, perfume de limão e era rodouro,
e uma aurora me sorria da turba e sussurrava em seu ouvido que teria madame
antes do nome se me amasse mas ela não acreditava, que te faço feliz meu amor e
te amo mais que tudo e não acreditava, que ingrata, e prometia a lua para as
colombinas e o sol para as bailarinas e beijava macio a mão das estrelas
dalvas. Porque era carnaval, porque era feliz, e porque estava vivo.”