No escuro nada vejo, mas sinto em lampejos o que posso alcançar.

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Na cama. O beijo, by Toulouse Lautrec

“Dispa-me no escuro. Em disparate do absurdo. Sangra em minha boca de amor e fé. No escuro nada vejo, mas sinto em lampejos o que posso alcançar. Mapeio em linhas transversais seu corpo que me quer. Corpo do homem cuja fera é tão cega que a ausência de luz não faz corar. E eu me alegro tenra de temor por não ver e por querer tão completamente sem razão sua mão sobre a minha em toda escuridão. Roubaram-me a visão e o dia é escuro e é triste e quase negro de pavor. Eu amo tanto e choro em pranto e tateio em busca da criatura que me rodeia e me faz abrir a vida em flor. Que será dor? Que será cura? Que será luz para a mulher que enfim enxerga o nocivo efeito de um homem sem amor?”


Letícia Palmeira em Canção em trezenas