O belo já não me serve de morfina ou bálsamo
by Lily
"Depois de você, me vi obrigado a conter minha paixão pela
arte. Não é que eu tenha sido tomado por uma aversão à esta; mas desde que
ficou claro pra mim que eu jamais poderia ser mais nada para você, vejo a mim
mesmo como uma banal representação de mim mesmo, e não mais como uma pessoa por
inteiro. Sou um quadro pintado por um artista de mau gosto que exibe uma
caricatura grotesca de alguém apaixonado. Uma fotografia velha de alguém que a
nem tanto tempo assim costumava ser um homem. Escuto a mim mesmo e me parece
que minhas palavras são a letra de uma canção que ficou sem a melodia. O que
você tirou de mim foi a minha capacidade de apreciar qualquer beleza além da
sua. Renoir's, Picasso's, Mozart's, Rimbaud's, Fellini's, afastem de mim seus
curativos! Quero a balada mais melancólica de Billie Holiday e isto apenas.
Quero minha embriaguez relatada por Bukowski. Sem seus enfeites, sem suas
mentiras. Quero minha vida de volta ao que era antes dela, para que eu possa
voltar a me inspirar nas sutilezas da arte, respirar a lascívia que brota entre
os cabelos de uma mulher qualquer. Há tempos não leio um bom livro. Nenhuma
foto que me encante. Nenhum filme que me surpreenda. Apenas a imagem repetida à
exaustão de meu orgulho rastejando sobre o chão. O belo já não me serve de
morfina ou bálsamo. É apenas uma mentira entre as tantas que já ouvi e as quais
repito, releio e escuto todos os dias antes de dormir. Não direi mais nenhum
poema até que me livre de uma vez dessa pedra que pesa sobre meu peito. Se não
conseguir, este desabafo não será nada mais que o epitáfio de um afogado."
Rodrigo Ribeiro
Bonito esse seu espaço.
ResponderExcluirOlá, Jorge!
ExcluirObrigada! Ando sem tempo de cuidar desse meu espaço, mas em breve voltarei a postar com frequência!
Volte sempre!