by Lily
Kevin Spacey, como Francis Underwood, em House of Cards
“Não existem muitos homens cuja
nulidade profunda é um segredo para a maioria das pessoas que os conhece? Uma
posição elevada, um nascimento ilustre, funções importantes, um certo verniz,
uma grande reserva no comportamento ou os prestígios da fortuna são, para eles,
como salvaguardas que impedem que as críticas penetrem até sua existência íntima.
Essas pessoas assemelham-se aos reis, cuja verdadeira envergadura , cujo caráter
e cujos costumes jamais podem ser bem conhecidos, nem corretamente apreciados,
porque são vistos de longe ou de perto demais. Esses personagens de mérito fabricado
fazem perguntas em vez de falar, têm a arte de colocar os outros em evidência
para evitar expor-se diante deles; enfim, com uma boa habilidade, puxam a cada
um deles pelo fio de suas paixões e interesses e usam homens que lhe são de
fato superiores, transformando-os em marionetes seus, e acreditam serem eles
pequenos por tê-los rebaixados até sua mediocridade. Obtêm então o triunfo natural de um pensamento
mesquinho, mas fixo, sobre a mobilidade dos grandes pensamentos. Por isso, para
julgar essas cabeças vazias e avaliar seus valores negativos, o observador
precisa ter um espírito mais sutil do que superior, mais paciência do que
alcance na visão, mais fineza e tato do que elevação e grandiosidade nas
ideias. No entanto, por mais hábeis que sejam esses usurpadores para defender
seus lados fracos, para eles é bem difícil enganar suas mulheres, sua mãe, seus
filhos ou o amigo da casa; mas essas pessoas preservam quase sempre o segredo
das coisas que de certa forma abalam a honra comum; e muitas vezes sua família até
os ajuda a se impor ao mundo.”
Honoré de Balzac, em A Mulher de Trinta Anos